Monte Carmelo: a obra de R$ 3,8 milhões que se transformou no retrato do abandono em Carmópolis

De
Pesquisador Paulo Marcelo
Jornalista, Intelectual Público, Pesquisador, Comunicador, Fotógrafo, Professor, Palestrante, Designer e Busólogo.

A investigação que deu origem a esta reportagem começou de forma quase acidental. No dia 4 de novembro, a ida a Carmópolis tinha outro propósito: apurar denúncias feitas por moradores sobre problemas envolvendo estradas rurais, áreas de desmatamento e restrições impostas a pescadores locais. O ponto de encontro com uma moradora foi marcado no Complexo Turístico-Religioso Monte Carmelo, espaço que o repórter não conhecia até então. Ao chegar ao local, a cena encontrada chamou atenção imediatamente. A estrutura abandonada, o mato avançando, as paredes desgastadas e a ausência completa de manutenção revelaram um cenário que contrastava com o potencial do lugar e despertaram a necessidade de investigar o histórico daquele investimento público.

Assim nasceu a apuração que resultou neste material. O objetivo é reconstruir o marco inicial do projeto, analisar seu desenvolvimento ao longo das gestões municipais e compreender como um espaço construído com milhões de reais em recursos públicos chegou ao estado atual de deterioração.

Localizado em Carmópolis, interior de Sergipe, o Complexo Turístico Monte Carmelo foi inaugurado em 2013 com a promessa de se tornar um dos principais atrativos religiosos e culturais do município. O projeto recebeu investimento aproximado de R$ 3,8 milhões da prefeitura. A estrutura contemplava restaurante, lojas de artesanato, velário, parque infantil, estações da Via Sacra, projeto paisagístico e uma estátua de Nossa Senhora do Carmo com doze metros de altura, instalada sobre um pedestal de vinte metros. Em números oficiais, o complexo ocupava cerca de 7.700 metros quadrados.

A proposta, à época, era impulsionar o turismo, criar novas oportunidades econômicas, organizar o fluxo de visitantes e consolidar uma referência religiosa para o município. No entanto, o que se vê passados mais de dez anos é o oposto da intenção original. A reportagem constatou que o complexo encontra-se hoje em estado avançado de decadência. Parte das estruturas está danificada, há ferrugem, pichações, infiltrações e mato tomando áreas que deveriam ser de circulação. Os espaços comerciais seguem fechados e a área de convivência praticamente se desfez com o tempo.

No local, uma placa chama atenção. Ela indica que o Governo Federal destinou recursos para a reforma do mirante do complexo. O documento informa que a obra teria início em 4 de julho de 2024 e término previsto para 4 de janeiro de 2025, com valor total de R$ 243.980,46. Porém, in loco, a reportagem não encontrou qualquer indício de obra em andamento. Não há trabalhadores, materiais, tapumes ou estruturas provisórias. O prazo venceu e a placa permanece sem atualização ou explicação visível para a população.

A ausência de movimento levanta questionamentos importantes: por que a obra não avançou? Os recursos foram liberados? Houve interrupção? Existe um novo cronograma? Até a publicação deste texto, nenhuma informação atualizada havia sido disponibilizada no próprio local da obra.

O histórico administrativo também revela que a deterioração não ocorreu em uma única gestão. O Monte Carmelo foi inaugurado durante administrações conduzidas por Volnei Prado Leite e Esmeralda Mara Silva Cruz, ambas filiadas ao Partido dos Trabalhadores. Posteriormente, outras gestões assumiram o município, mas o quadro de abandono persistiu. A falta de continuidade e de manutenção regular evidencia uma fragilidade na condução das políticas públicas ao longo dos anos.

Apesar do quadro atual, o Monte Carmelo permanece como um espaço de grande potencial cultural, social e econômico. Sua localização privilegiada, o valor simbólico da estátua e a arquitetura pensada para receber visitantes oferecem condições reais de revitalização. No entanto, sem gestão, sem transparência e sem compromisso, a possibilidade de desenvolvimento se perde.

A situação do complexo é um lembrete de como o descaso administrativo pode comprometer investimentos, identidade local e oportunidades de geração de renda. Um patrimônio público construído com recursos significativos não pode ser tratado como algo descartável ou secundário.

Este artigo reúne todos os elementos apurados durante a investigação: o contexto da descoberta, os dados oficiais, o histórico da obra, os valores investidos e o estado atual do local. O objetivo é provocar reflexão e cobrar responsabilidade. Porque preservar o que é público não é uma escolha. É um dever que, em Carmópolis, foi ignorado por tempo demais.

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Jornalista, Intelectual Público, Pesquisador, Comunicador, Fotógrafo, Professor, Palestrante, Designer e Busólogo.