Lula e Trump: o encontro que desmontou o bolsonarismo

De uma crise criada por Eduardo Bolsonaro à foto que virou símbolo da maturidade diplomática do Brasil, o jogo virou, e com direito a deboche histórico.

De
Pesquisador Paulo Marcelo
Jornalista, Intelectual Público, Pesquisador, Comunicador, Fotógrafo, Professor, Palestrante, Designer e Busólogo.

Sabe aquela expressão “eu só acredito vendo”? Pois é. Dessa vez, nem vendo os extremistas do bolsonarismo estão conseguindo acreditar no tamanho da lambança que eles mesmos produziram. Porque o desdobramento dessa desastrosa diplomacia ideológica da era Bolsonaro acabou resultando, entre outras coisas, justamente na imagem que eles mais temiam: Lula e Donald Trump lado a lado, sorrindo, num encontro que virou símbolo de derrota para o bolsonarismo.

E o mais irônico é o seguinte: nem se o governo Lula tivesse planejado a melhor articulação possível, com roteiro, equipe e estratégia, conseguiria produzir uma cena tão perfeita, tão politicamente inteligente e tão devastadora para a narrativa da extrema-direita. Porque eles sabem exatamente de onde isso começou: da aventura infantil de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, que trocou diplomacia por lacração ideológica, queimou pontes, criou atritos com setores estratégicos, e abriu caminho para tarifas, sanções, desgaste comercial e um prejuízo que respingou justamente no lado que ele dizia representar.

O resultado foi tão amador que, dentro do Palácio do Planalto, Eduardo Bolsonaro ganhou um apelido quase unânime: “o cabo eleitoral do governo Lula”. E não é difícil entender por quê. A extrema-direita entregou, de bandeja, a pauta, a narrativa e agora a imagem que o governo Lula precisava.

E aí entra a parte mais saborosa dessa história. Enquanto a direita brasileira perdeu completamente o fio de diálogo com os Estados Unidos, Lula fez aquilo que adulto faz quando chega na sala depois que as crianças bagunçaram tudo: arrumou. Foi lá, sentou, conversou, recolocou o Brasil na mesa de negociações – e não em posição de súdito ideológico, mas de país que sabe quem é e o que representa no mundo.

E tem um detalhe que apimenta ainda mais a narrativa: para os assessores próximos de Lula, Trump não é guiado por ideologia, e sim por transação. Ele quer saber o que ganha e o que perde. Se rever tarifas sobre carne e café melhora a vida do cidadão comum nos EUA, ele considera. É um cálculo frio, comercial, prático – e Lula entendeu isso. Falou com Trump na linguagem que Trump respeita: resultado.

Agora, vamos ao deboche que a história merece. O campo bolsonarista passou anos pintando Trump como aliado ideológico, quase um santo padroeiro da extrema direita brasileira. E o que acontece? Justo Trump recebe Lula, dialoga com respeito e ainda posa para uma foto histórica. É um plot twist tão humilhante para a extrema-direita que nem Bolsonaro, no auge da imaginação conspiratória, conseguiria prever um clima tão amistoso entre Lula e Trump.

E o efeito colateral dessa foto é gigante. Porque ela entra para a História como marco simbólico de reposicionamento internacional do Brasil. E mais: Lula reforça um feito raro — ele é o único presidente brasileiro vivo que tem foto com todos os presidentes dos Estados Unidos com quem teve relação institucional direta. Isso não é sobre vaidade; é sobre peso político. Mostra que Lula transita, conversa e é respeitado por todos os lados do tabuleiro — democratas, republicanos, progressistas, conservadores, líderes da Europa, da Ásia, do Sul Global, do BRICS, do G7 e agora, de novo, do eixo que a direita brasileira dizia monopolizar.

Então, o que esse encontro nos ensina?

Ensina que política não é grito, meme e lacração. Política é estratégia. Ensina que quem governa com adultismo, diplomacia e inteligência não precisa se ajoelhar para ninguém — conversa de igual para igual. Ensina que respeitar o Brasil dá resultado. E principalmente, ensina que quem brinca de guerra ideológica acaba entregando o jogo para quem sabe jogar geopolítica de verdade.

No fim das contas, a extrema-direita abriu o buraco, caiu dentro, e Lula passou por cima pavimentando estrada. E com foto histórica para guardar.

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Jornalista, Intelectual Público, Pesquisador, Comunicador, Fotógrafo, Professor, Palestrante, Designer e Busólogo.