Como o Congresso passou a controlar parte do orçamento público e transformar recursos do povo em instrumento eleitoral com a participação de toda a bancada.

De
Pesquisador Paulo Marcelo
Jornalista, Intelectual Público, Pesquisador, Comunicador, Fotógrafo, Professor, Palestrante, Designer e Busólogo.

Publicidade!

Como políticos de Sergipe usam o orçamento

Nos últimos anos, a bancada federal de Sergipe passou a integrar um modelo político que concentrou poder orçamentário no Congresso Nacional, enfraqueceu o papel do Executivo eleito e transformou recursos públicos em instrumento de capital eleitoral. Esse modelo ficou conhecido popularmente como orçamento secreto, mas não se resume a ele. Mesmo após mudanças formais, a lógica da apropriação política do orçamento permanece ativa.

A questão central, pouco enfrentada nos discursos oficiais, é simples e direta. O que esse modelo trouxe de estruturante e duradouro para a população sergipana?

Enquanto bilhões passaram a ser distribuídos por meio de emendas parlamentares, com baixo nível de transparência e pouco planejamento de longo prazo, temas fundamentais da vida do trabalhador ficaram fora da agenda pública da bancada sergipana. Deputados e senadores passaram a executar orçamento, quando sua função constitucional é legislar e fiscalizar.

O resultado desse deslocamento é visível. Menos política pública estruturante, mais obra pontual. Menos planejamento de Estado, mais retorno eleitoral imediato.

As votações recentes ajudam a compreender essas escolhas. A bancada sergipana esteve alinhada à aprovação do chamado PL da Devastação, que fragiliza o licenciamento ambiental e compromete o futuro socioambiental do país. Também acompanhou o avanço do PL da Dosimetria, ampliando inseguranças no sistema de justiça. Além disso, a maioria votou contra propostas de taxação de bancos, grandes fortunas, apostas eletrônicas e bilionários, mantendo um modelo tributário que pesa mais sobre o consumo e o trabalho do que sobre o capital.

Essas decisões têm impacto direto na vida da população. Reduzem a capacidade do Estado de arrecadar de forma justa, limitam investimentos estruturais e transferem o custo da máquina pública para quem menos pode pagar.

Outro aspecto revelador é o silêncio. Temas centrais do mundo do trabalho, como a redução da escala 6 por 1, simplesmente não aparecem nas redes sociais, nos discursos públicos ou nas prioridades da bancada sergipana. Não há debate, não há posicionamento claro, não há enfrentamento político. O silêncio, nesse caso, também é uma escolha.

Em contrapartida, ganha destaque a divulgação constante de obras financiadas por emendas parlamentares, muitas vezes apresentadas como conquistas pessoais, quando na verdade são resultado do uso de recursos públicos. O dinheiro do povo passa a ser tratado como favor político.

Nada disso configura, necessariamente, ilegalidade individual. Mas revela um problema político e democrático profundo. O orçamento público deixa de ser instrumento de planejamento coletivo e passa a funcionar como ferramenta de fortalecimento eleitoral.

Esta não é uma acusação pessoal. É uma cobrança pública e legítima. Se a bancada federal de Sergipe concentrou poder sobre o orçamento, é razoável perguntar onde estão os avanços estruturais, a defesa do trabalhador, o enfrentamento à desigualdade e o compromisso com uma política tributária mais justa.

O dinheiro é público. O mandato é público. E a responsabilidade também.

Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP

📲 Siga o Canal no WhatsApp
Siga também nosso Instagram: 📸 @istoearacaju
Compartilhe esta notícia
Jornalista, Intelectual Público, Pesquisador, Comunicador, Fotógrafo, Professor, Palestrante, Designer e Busólogo.