Há pouco mais de 10 anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união homoafetiva no Brasil. As transformações da entidade familiar possibilitaram a criação de uma nova configuração no Direito que firmou um novo conceito de relação entre os indivíduos. Embora casos de preconceito ainda sejam comuns, essa situação vem sendo reduzida com esforço e conscientização. E foi abordando este tema que o acadêmico de Direito Domingos Ribeiro de Santana, de 71 anos, casado e pai de cinco filhos, conquistou seu diploma de graduação.
“Para muitos, a escolha do tema pode gerar estranheza e, de fato, gerou. Meu orientador, professor Marcelo Oliveira, conversou comigo sobre a escolha, uma temática desafiadora para abordar e desenvolver um trabalho acadêmico. Mas estava decidido a defendê-lo, afinal ‘na minha idade’ já não temos mais tempo para preconceitos, nem para fazer distinção de ninguém em função de sua sexualidade. A escolha foi uma forma de superação”, relata o aluno do Centro Universitário Ages, de Paripiranga.
Seu Domingos destaca sua perplexidade ao descobrir quanto ódio e preconceito há sobre a família homoafetiva. Foi isso que o impulsionou, somado ao preconceito que ele próprio relata já ter sofrido. “Posso dizer que senti algo semelhante ao que muitas famílias homoafetivas sentem, principalmente o preconceito. Quando me viram estudando – um idoso, ‘cego’, lavador de panelas, foi impactante notar olhares e comentários, sejam de pessoas da minha cidade, alguns colegas e até familiares. Com esse tema resolvi quebrar esse tabu. Todos têm o direito de sonhar, sentir-felizes, respeitando as leis e a comunidade em que vivemos”, acredita o estudante de Direito, que se emociona ao lembrar dos primeiros dias de aula e do sonho de adolescência agora realizado.
Trajetória
Cursar Direito era um desejo antigo de Seu Domingos. A inspiração veio, ainda na adolescência, após conhecer um advogado da sua cidade natal – Crisópolis/BA: o Dr. Rodolfo, conhecido na cidade por sempre ir às audiências de paletó e gravata.
A recompensa veio após muito esforço e dedicação. “No primeiro dia de aula, me senti totalmente perdido e continuei assim por um bom tempo. Eu não sabia fazer trabalhos, não interpretava textos, não conseguia escrever uma linha. Lembro-me de ir para o apartamento e só chorar. Perdi quatro matérias no primeiro semestre e pensei em desistir, mas prometi que só saía da faculdade com o diploma na mão”.
Felizmente, muitas pessoas o ajudaram: professores, colegas, funcionários da instituição. “Todos foram anjos, fizeram até uma ‘vaquinha’ e compraram um terno e uma gravata, eu parecia um pinguim, segundo meus colegas. Também compraram um computador, pois eu não tinha. Isso me emocionou e me emociona demais até hoje. Foi com a ajuda deles que continuei a caminhada”, conclui emocionado Seu Domingos, cujo foco total agora é ser aprovado na Ordem dos Advogados do Brasil.
Ages 40 anos
A Ages nasceu há 40 anos com o objetivo de levar educação de qualidade para o interior do Nordeste e dar oportunidades para pessoas que muitas vezes não tinham nem o direito de sonhar. Com suas raízes fincadas em Paripiranga (BA), a instituição também marcou seu lugar nos municípios baianos de Tucano, Jacobina, Irecê e Senhor do Bonfim e na cidade sergipana de Lagarto. Em 2019, a Ages se integrou à Ânima Educação, ecossistema com mais de 300 mil alunos e quase 20 anos de história.
E para celebrar as quatro décadas alcançadas em 23 de maio de 2022, a Ages lançou um site comemorativo que traz curiosidades, histórias e fatos sobre egressos e colaboradores. A campanha comemorativa ainda contou com um podcast com histórias reais de pessoas que tiveram suas vidas transformadas pela educação: o “Falou Shippou” está disponível nas plataformas YouTube e Spotify.
Por Isto é Aracaju / GRECY ANDRADE/
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