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“É preciso repensar a linguagem utilizada com pessoas trans”, afirma psicanalista  

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Por Isto é Aracaju

Foto: Reprodução/ TV Globo

Muito tem se falado ultimamente sobre a questão de gênero e sexualidade. Seja em propagandas veiculadas na televisão, em conversas entre amigos, novelas, discussões sobre religião e, mais recentemente, no reality show Big Brother Brasil com a presença da cantora travesti Linn da Quebrada, que prefere ser chamada pelo pronome feminino ela e, por isso, tatuou a palavra em seu rosto para lembrar de como quer ser chamada. O assunto tornou-se um dos mais comentados dentro e fora do confinamento, o que levanta o alerta sobre e como deve-se tratar as pessoas transgêneros.   

Segundo a Associação Nacional de Travestis (Antra), na cartilha Guia para retificação do registro civil de pessoas não cisgêneras, existe muitas dúvidas sobre como tratar e chamar pessoas não-cisgêneras. Cisgêneras são pessoas cuja identidade de gênero coincide com o sexo atribuído no momento do nascimento com base em suas características físicas. A pessoa transgênero é aquela cuja identidade de gênero não coincide com a atribuição feita no momento do nascimento, este é o caso da participante do BBB, Linn, ou Lina, depois da mudança do nome social em seus documentos oficiais.   

Desinformação, preconceito ou transfobia? O que faz uma pessoa não reconhecer o gênero a qual ela se define ou quer ser tratada? Para João Henrique Santos, psicanalista, doutorando em Psicologia Social e professor no Ânima Plurais, é um pouco de cada um desses três. Entretanto, é importante entender que em 2022 já não se justifica mais a simples desculpa da desinformação.  

“Algo que muito tem se propagado dentro do BBB. Pessoas cometendo os erros e dizendo que não sabia e, portanto, precisa aprender. Estamos em um momento de desenvolvimento tecnológico e de intensa produção de conteúdo dos movimentos sociais que pautam a temática da diversidade de gênero e sexualidade. Quem não sabe atualmente não é por falta de conteúdo, basta ‘dar um Google’ que a informação está lá prontinha”, afirma.  

Não reconhecer o gênero a qual a outra pessoa gostaria de ser tratada é denominado de transfobia, explica o psicanalista. “Quando falamos de transfobia estamos falando de uma sociedade que se organiza e fundamenta em uma matriz cisheteronormativa que exclui (e muitas vezes mata) tudo o que foge dessa norma. As identidades trans (travestis e transexuais) são exemplos disso. Para se ter uma ideia, no caso da Linn não basta ela ter uma tatuagem escrito ‘Ela’ na testa, ela performar uma feminilidade, ter cabelos compridos, seios… a cisnorma insiste em violentá-la e querer colocá-la (forçá-la a se enquadrar) no que é socialmente aceitável e tido como normal”, chama atenção.  

Respeito  

Para a Antra, chamar as pessoas trans da forma como elas não se sentem nem se denominam pode ocorrer por falta de conhecimento – “apesar de outras situações acontecerem com o intuito de constranger ou ofender”. A Associação pontua ainda que o tratamento deve sempre ser com base nas características de gênero demonstradas pela pessoa com quem se comunica.  

“A visão da sociedade sobre qual é o gênero daquela pessoa é irrelevante frente à identidade de gênero em que ela se reconhece. Ou seja, se a pessoa performa o gênero feminino, o correto é tratá-la por pronomes femininos, utilizando o nome com o qual se apresentou. O fato de no documento dessa pessoa constar o marcador de gênero masculino e um outro nome não dão o direito dos outros ignorarem a identidade daquela pessoa. Se a forma que a pessoa performa o gênero deixou dúvida quanto à qual gênero ela prefere ser tratada, o mais educado é perguntar, demonstrando interesse em ser respeitoso” diz a cartilha.  

Palavras que machucam  

O tipo de linguagem utilizado com esses grupos pode machucar e, sem dúvida, acarretar em processo de exclusão. Segundo o professor Henrique, não tem como ser trans em nossa sociedade e passar ilesa. E muito disso diz respeito à linguagem, que se expressa tanto de modo verbal por meio de palavras que velam preconceito como de modo não verbal, por meio de olhares e comportamentos.   

“Os estereótipos são marcadores sociais que expressam padrões de reconhecimento que reduzem e enquadram as pessoas a um modo de representação e, portanto, podem produzir exclusão. Quando se fala ‘traveco’ qual a imagem que produz na consciência das pessoas? Essa imagem é quase sempre marginalizada, não atrelada ao feminino e carregado de estereótipos”, afirma.   

É importante destacar, reforça o estudioso, que o uso da palavra travesti não é apenas um marcador de identidade, mas é também um uso político. “As travestis (sempre no feminino, não existe ‘o travesti’) são corpos que diariamente se colocam em posições de enfrentamento e que mais sofrem com os efeitos de uma sociedade preconceituosa e violenta. No programa, Linn dá uma boa resposta para que possamos repensar o uso que fazemos dessa linguagem pejorativa. Quando questionada pelo participante que fez o uso da palavra ‘traveco’ ela diz: ‘você não sente que é uma palavra ruim?’: Eu diria que sim. Quem violenta sente e sabe que o que faz é violento”, finalizou João Henrique. 

Por Isto é Aracaju / GRECY ANDRADE/ DANIELA PASSOS  

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